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Empoderamento e Inclusão no Mercado Cultural

Por Luis Nova

Oficina de audiodescrição qualifica mulheres com deficiência visual para atuar como consultoras no mercado cultural.

A Lente Cultural capacitou 23 mulheres com deficiência visual para atuarem como consultoras no mercado cultural. A oficina de Audiodescrição, ministrada pela especialista Jane Menezes, foi realizada na Biblioteca Braille Dorina Nowil em Brasília-DF, destacando a importância da qualificação profissional para pessoas com deficiência (PcD).

A musicista Gabriela Vargas, de 21 anos, perdeu a visão decorrente de uma doença autoimune. A jovem terminou a qualificação com um sorriso no rosto, um promissor caminho profissional e com uma frase no peito: “a arte abraça todos”.

Gabriela, que gosta de ser chamada de Gaab, perdeu a visão após completar 18 anos. A vida da jovem pulsava antes do diagnóstico de Neuromielite Óptica, Gaab estava noiva, grávida e com vários sonhos pela frente. Veloz como um relâmpago, a doença autoimune se manifestou e atacou a visão. Com a doença progredindo rapidamente, Gabriela ainda contraiu Covid-19 e por causa da gravidez, não conseguiu tratar direito as doenças. Com tantos diagnósticos difíceis, Gabriela ainda perdeu o filho e ficou em coma por três meses.

Após acordar do coma, Gabriela se viu perdida ao abrir os olhos em um mundo escuro. Preocupada, a jovem demorou a aceitar a doença e por uns meses ficou cabisbaixa. Dia após dia, Gabriela se reergueu. Ela começou a estudar piano e começou um projeto de influêncer para mostrar ao mundo como ela vive. Durante as superações da vida, Gabriela se inscreveu na Oficina de Audiodescrição, participou e concluiu o curso.

“A audiodescrição é muito importante para as pessoas com deficiência visual, ainda mais para mim que já enxerguei um dia. Com a descrição consigo imaginar e visualizar tudo que escuto. Não vejo a hora de começar a trabalhar na área. É onde me encaixo, a arte abraça todos! Nada melhor para a audiodescrição um cego ser consultor, até porque ninguém melhor do que o cego para falar se a audiodescrição está boa”, explica.

A professora da oficina de audiodescrição, Jane Menezes, informou que é necessário capacitar o deficiente para o mercado de trabalho e esse curso trouxe elementos qualificatórios para que o deficiente visual trabalhe com consultor no mercado de audiodescrição. “No processo da audiodescrição, há dois papéis fundamentais: o roteirista e o consultor. As mulheres que participaram estão preparadas para atuar na área cultural de forma plena. Foram aulas práticas e teóricas sobre a audiodescrição”, explica a especialista.

A tradutora e social media, Analú Aguiar, de 25 anos, não possui deficiência visual e atua no mercado como vidente, pessoa que descreve para o deficiente visual. Ela fez o curso e está maravilhada com o material. “Participar deste curso é muito importante, para aprimorar o meu trabalho. Estar em uma turma mista, entre cegos e videntes, é fundamental para compreender o impacto do trabalho na vida das pessoas que precisam da audiodescrição. Eu nunca tive essa experiência, essa vivência, essa troca. Escutar os deficientes é fundamental para aprimorar o trabalho”, comemora Analú.

O membro fundador do coletivo Lente Cultural, o fotógrafo e jornalista Eraldo Peres, atua na economia criativa do Distrito Federal desde 2009. De acordo com Eraldo, a legislação existe para incluir a pessoa com deficiência no mercado cultural, entretanto faltam atividades de qualificação e profissionalização para esse público. “Estamos realizando uma série de três oficinas para o público PcD, este projeto qualificará as pessoas com deficiência para atuarem no setor cultural nas áreas de audiodescrição, fotografia e monitoria. Mas além disso, queremos criar oportunidades reais de trabalho conectando os participantes das oficinas com produtores culturais”, explica Eraldo Peres.

Afirma ainda que o objetivo do coletivo é capacitar cada vez mais pessoas com deficiências no DF, assim construindo uma cidade mais inclusiva e justa. “Estamos focados nos projetos de formação para o mercado cultural. E dentro dessa formação, ações voltadas para o público PcD. Eu, particularmente, sou pai de uma PcD , conheço esse universo dentro da minha própria família. Qualificar e incluir é dar dignidade para as pessoas com deficiência”, conclui Eraldo.

A oficina de audiodescrição foi realizada em Maio/2024. Durante o mês de junho acontece a oficina de fotografia básica, que oferece a qualificação para atuação na cobertura de ações culturais e, também, na capacitação dos registros técnicos, material necessário para a prestação de contas de qualquer projeto.

A terceira oficina será de Monitoria para exposição. Este curso, oferece a qualificação para pessoas que tenham em interesse em atuar como monitor acessível, na recepção de públicos diversos e, também, serão capacitados para guiar e apresentar ao público o conteúdo da exposição em que estiverem trabalhando.

Para se inscrever, acesse o site www.lentecultural.org.br.

Siga o Instagram @ColetivoLenteCultural e fique por dentro das novidades do mercado cultural.

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